Quando eu tinha 14 anos, na escola o professor de história deu várias frases pra ver se a gente concordava ou não. Uma delas dizia: “Uma mulher que tem relações sexuais com diversos homens antes de casar não é uma mulher muito respeitável”. A maioria dos alunos concordou com isso, inclusive eu:
No ano seguinte em outra escola e também na aula de história, a professora mostrou as mesmas perguntas e a maioria concordou com essa. Até que a professora falou : E porque a mulher não merece respeito? O homem pode ter relações com várias mulheres, mas a mulher não? Depois disso vi o quanto era ridículo esse tipo de pensamento e passei a repudiar atitudes machistas, a ponto de ficar profundamente incomodado se vejo alguém falando mal de uma mulher, só porque ela está com roupa curta. Porém, mais do que homem machista, me incomoda é mulher machista, daquelas que acham que o homem tá certo em não valorizar mulher que tem relações com homens antes de casar.
Dito isso, fiquei profundamente incomodado e impressionado com as situações exposta no filme. A mulher pode sofrer assédio e não pode denunciar? Isso porque a sociedade vai pensar mal dela, a maioria vai achar que ela é culpada (se insinuando) e os que acharem ela certa não terão coragem de admitir. Triste isso.
Com isso ”Cairo 678” nos apresenta a 3 mulheres dispostas a mudar a situação. Uma que se separou e passou a dar aulas de defesas para mulheres, outra que foi a primeira mulher a dar queixa de assédio sexual e outra que passa andar com estilete para se vingar dos homens que assediam.
E o machismo aqui é ruim também para os homens. Um deles não consegue mais tocar mais na esposa, já que ela foi assediada por várias pessoas, já que isso é um motivo de vergonha pra ele. Outro ama sua noiva, mas sente que pode ser prejudicado se ela levar queixa de assédio adiante e toda a família pede que ela retire a queixa. E um outro, tem que buscar de outra forma, o prazer sexual, já que sua mulher se recusa a ter relações e não se sente a vontade pra explicar o motivo. Todos perdem com isso. Seja a mulher que tem aceitar tudo e não fazer nada, seja o homem que vai ser motivo de vergonha se sua mulher não “andar na linha”.
Procurando mostrar o ponto de vista de vários personagens, o filme acerta em cheio ao mostrar todas as dúvidas, contradições e as complexidades dos personagens e uma dessas contradições, fica nítida quando uma delas faz um discurso machista dizendo que ela é assediada graças ao comportamento de outras mulheres, como se no fundo os homens tivessem razão de fazer isso. E como denunciar não é o normal, as coisas acabam ficando comuns, como se realmente o homem tivesse o direito de assediar, e a mulher tivesse que ficar quieta.
Grande filme
Nota-9
Nenhum comentário:
Postar um comentário