quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Homem Irracional

Com quase 80 anos de idade, mais de 40 filmes na carreira e dirigindo 1 por ano, não é de se espantar que Woody Allen repita ideias de filmes anteriores. E quem conhece o diretor , sabe que ele tem verdadeira obsessão  por escrever, e que ele está sempre pensando em um projeto novo, já que se aposentar seria como morrer, como fica claro em “Para Roma com Amor”, seu filme de 2012. E quem o conhece bem, também sabe que ele tem pavor de morrer. 
Nesse filme, Abe Lucas(Joaquin Phoenix), professor de filosofia com tendências depressivas se envolve com Jill, uma aluna(Emma Stone) e Rita, uma outra professora(Parker Posey). Um dia ele escuta uma conversa em uma lanchonete em que uma mulher se desespera ao saber que vai perder a guarda de seus filhos porque o juiz é amigo do advogado do pai das crianças. E decide matar o juiz, acreditando que ele pode tornar a humanidade melhor, ao livra-lá de um ser humano que ele julga como nocivo. 
Assassinatos elaborados para parecerem crimes perfeitos já foram temas do diretor em obras primas como Crimes e Pecados e Match Point, no entanto dessa vez Allen não nos permite conhecer a vida da vítima. Um homem ouve uma conversa, tira suas conclusões e decide cometer um crime. Não sabemos se de fato a mulher que se diz vítima, era vítima, se o juiz era mesmo corrupto; tudo é o que o professor acha, baseado no que ele ouviu de uma desconhecida.
Nesse ponto é um grande mérito do filme que simpatizemos com o professor, e isso se deve a brilhante atuação de Joaquin Phoenix que apenas o olhar retrata perfeitamente o momento de seu personagem. Seu semblante muda nitidamente quando ele encontra um sentido pra sua vida ao decidir cometer um crime. Emma Stone vive(muito bem) uma personagem, Alegre, cheia de vida e(sim) infiel. Ela se apaixona pelo professor que é totalmente oposto. 
O roteiro do filme é interessante e inteligente em muitos pontos, como , dar informações aparentemente descartáveis que depois serão importantes no final. Porém o mesmo falha ao não elaborar a solução final de maneira tão satisfatória. Ela é coerente, interessante e mesmo empolgante, no entanto no mundo real não é fácil acreditar que alguém que havia pensando tanto em um crime perfeito, agiria daquela forma. (spoiler no próximo parágrafo-pule caso não tenha visto o filme).
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É verdade que Abe não teria tempo pra planejar nada tão elaborado, no entanto , fica pouco crível que ele não se preocuparia com câmeras no prédio(ou que qualquer pessoa visse), ou mesmo que a perícia certamente concluiria que Jill não tinha sofrido acidente e sim ter sido empurrada no vão do elevador e que ele seria suspeito. Além disso a forma como ele tenta joga-la no vão é um tanto irreal. Parece na verdade um erro na forma como foi filmada e não do roteiro.
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Outro problema é o excesso de narração, que muitas vezes soa desnecessária. Algo que já atrapalhou um pouco o mediano “Você vai conhecer o homem de seus sonhos” e o excepcional Vick Cristina Barcelona
Mas mesmo com isso, Homem Irracional é um filme envolvente, intrigante e que nos faz pensar em boas questões.
É justo que haja justiça com as próprias mãos?

 É justo que baseado no que você acredita, você faça algo julgando que é certo? (ainda que tenha provas, o que não era o caso no filme)

Se você acha que uma pessoa é um mal pra humanidade, é justo você mata-la?
Se você não está pronto(a) para viver uma relação monogâmica, é justo achar que o(a) outro(a) também não está? Ou pior, usar isso como desculpa pra sua atitude errada?

Tudo isso é coisa do ser mais paradoxal do mundo: o ser humano.

No fim das contas “Homem irracional” parece um esboço feito para futuras obras de artes. O problema é que quando esse esboço vem depois das obras de arte dá um gosto de que  podia ser melhor. E isso pode até soar injusto com esse ótimo filme.

Nota-8 
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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

50 tons de cinza

Anastácia é uma jovem virgem e inocente que se apaixona por um homem estranho, até que descobre que ele é um vampiro e, ops, filme errado. Na verdade ela descobre que ele é viciado em praticas sados-masoquistas.
Tudo começa quando a Anastácia vai fazer uma entrevista com o senhor Gray e pedido de sua amiga e logo se encanta pelo cara já acreditando que ele tem um bom coração(ai meu deus, ela diz isso assim que o conhece). Logo depois ela descobre os hábitos do sujeito e bom...continua se apaixonando por ele assim mesmo, ainda que a idéia do sexo violento a apavore.
Com diálogos que variam entre o ridículo e o insuportável, o filme em muitos momentos faz rir, justamente por se levar a sério demais e não perceber o quanto é patético.
“eu não faço amor, eu fodo com força”
-Esse é meu quarto de jogos
-Seu x box e outras coisas? 
Mas a verdade é que esses diálogos poderiam ser perdoados se a história do casal fosse minimamente interessante. Vividos por um ator péssimo e uma atriz até razoável(pode ter sido vítima da personagem), Ana e Gray formam um casal que não devem ter muitos amigos, já que pouca gente os aguentariam.

Ele, apesar de bonito bem sucedido e parecer preocupado com causas sociais(hahahahaha), é um cara egoísta, machista e dominador que deixa bem claro que é ele que manda na relação . Ele não gosta de cinema, jantar, flores e nem de dormir com a mulher(no sentido literal)
Ela embora tente mostrar seu lado menos submissa e falar com autoridade às vezes, não convence dessa forma já que suas atitudes na maioria do filme demonstram outra coisa.

Com isso o filme levanta outra discussão(olha, ele serve pra isso). É um filme machista?

Por um lado, a mulher tem o direito de querer ser dominada, nada é forçado e blá blá blá. Por outro lado, Ana jamais parece se sentir a vontade com nada daquilo, o que a torna apenas submissa ao cara que ama, como se prazer sexual fosse coisa só pra homem. E as fracas cena de sexo contribuem pra isso, já que são extremamente mecânicas, como se o casal estivesse atuando e não gostando(ela menos ainda).
Mas o momento mais inacreditável do longa é quando conhecemos o teor do contrato entre o dominador e a submissa.
Ela não pode tocá-lo, não pode beber, só come o que ele permite, além de cláusulas que prever acessórios como “grampos vaginais”, “plugs anais” e outras bizarrices. Aliás o quarto de jogos dele é algo bem pesado, mas que na prática não acontece(não sei se virá nos outros filmes). É um filme que sugere muito e mostra pouco.
Mas no fim das contas, assim como crepúsculo, 50 tons de cinza é uma história de amor, e a julgar por esse filme que encerra a projeção com uma “rima” ridícula com outra cena, eu não sei se quero saber como termina.

Nota 0

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Caminhos da Floresta



Acho legal quando um diretor de teatro resolve se aventurar no cinema. Porém isso não quer dizer que ele saiba fazer isso bem e infelizmente Rob Marshal não parece ter a menor noção de algumas coisas.
É verdade que Chicago é um grande filme, mas tinha ótimo roteiro, ótimas músicas e ótimas atuações, além de toda a parte técnica impecável. De seus filmes seguinte, só sobraram de bom as partes técnicas. Memórias de uma Gueixa, Nine, Piratas do caribe 4 e agora esse Caminhos da Floresta que é disparado seu pior filme.

A história(na falta de um termo melhor) é a seguinte:

Um padeiro e sua esposa não podem ter filhos(não sei pra que o marido queria, mas ok) e uma bruxa logo aparece pra explicar o porquê. Na verdade eles estão sob um feitiço que a bruxa jogou na família por conta do pai do padeiro que no passado foi o responsável pela história da Rapunzel. Logo a bruxa avisa que o feitiço pode ser quebrado se o casal conseguir uma vaca branca, um sapato de cristal, um cabelo amarelo e um capuz vermelho.

Na teoria a idéia é ótima; Na prática é como uma comédia sátira sem vergonha de atirar pra todos os lados e não acertar nada satisfatoriamente. 

Tudo isso filmado pelo diretor como se fosse uma peça de teatro; aliás os filmes dele costumam ser assim. O público sempre parece estar na beira do palco.

Mas  a filmagem ruim, nem é a pior coisa do longa. O roteiro do filme é absolutamente ridículo (na falta de termo pior) . Além de músicas ruins, e diálogos toscos (“a gente precisa se separar pra ficar juntos”) o filme ainda tenta explicar o que já está claro, como na cena que Cinderela fica presa no piche e começa a cantar tudo que está acontecendo como se o público não pudesse perceber sozinho. E pra piorar, o príncipe ainda espera ela terminar pra continuar atrás dela. Ok, musical tem dessas coisas, mas é preciso muita boa vontade pra achar que o príncipe ainda continuaria atrás dessa cinderela, ainda mais depois do que acabara de ver.Aliás a cinderela interpretada(na falta de termo melhor) por Anna Kendrick deve ser uma das piores que já vi.

Pra piorar o filme ainda tem soluções estapafúrdias (milho no lugar de cabelo quase me fez chorar) e o desfecho da bruxa é péssimo. É como se Meryl Streep gritasse: “cansei dessa porcaria, estou indo embora”
Aliás Meryl Streep tem possivelmente a pior atuação de sua gloriosa carreira; É verdade que a culpa maior é do roteiro ao transformá-la numa bruxa caricata e escandalosa, mas isso não muda o fato de que a indicação dela ao Oscar é mais vergonhosa que a de Laura Dern por “Livre”.

Mas no fim das contas todo o elenco sofre muito com os personagens que são obrigados a interpretar e é raro ver um momento mais inspirado de algum deles.

E quando parece que tudo vai acabar, uma sub-trama forçada, ridícula e desnecessária invade o filme prolongando o sofrimento por mais 40 minutos.

Ruim de doer

Nota 2