quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O Preço do amanhã


“É preciso existir muitos pobres que vivam pouco para que possam existir muitos ricos que vivam muito”.
Esse conceito ganha uma roupagem bem interessante no novo longa de Andrew Niccol, o roteirista de Show de Truman (meu filme preferido) e diretor/roteirista de Gattaca, S1mone e o Senhor das armas: um nome que desperta minha atenção.

Na trama, ninguém morre até os 25 anos e após essa idade ninguém mais envelhece. A questão é que o tempo é a moeda do mundo; As coisas são compradas com ele, e no braço de cada pessoa com 25 anos ou mais, tem um grande relógio que marca quanto tempo cada um tem de vida, o que claro, vai diminuindo cada vez que você compra algo e aumenta cada vez que você recebe tempo de alguém. Sendo assim, há os ricos que tem séculos de vida e os pobres que não conseguem ir muito além dos 25 anos e precisam roubar tempo dos outros, o que dá um gancho para o filme tratar da injusta distribuição de renda, ops, de tempo no mundo.

Infelizmente, de bom, o filme só tem o conceito mesmo e por incrível que pareça o maior dos problemas é o roteiro; É até interessante ver alguém recebendo tempo extra por fazer hora extra no trabalho, assim como pagar 2 meses em um hotel de luxo, dar 2 dias de gorjeta, doar 10 anos a um amigo e pedir empréstimo de tempo em banco. Interessante sim, porém funcionam como exemplos isolados que não acrescentam muito a trama.

Pra começar já é difícil aceitar o fato que o protagonista seja perseguido por um assassinato que ele não cometeu, já que as circunstâncias que o colocam como suspeito, não são suficientes. Depois, a gente tem que entender que o roteiro só consegue criar tensão fazendo com que o casal do filme olhe para o próprio braço e perceba que o tempo está acabando, e assim eles precisam desesperadamente correr atrás de mais tempo. E pra completar a versão de Robin Hood que o casal assume ao longo da trama, jamais soa convincente. Além disso é difícil acreditar que o casal consiga fugir tanto já que estão sendo dados como procurados e oferecem 10 anos de recompensa para quem os entregar. E ainda tem o fato de a mocinha ser filha de um matusalém (leia-se milionário) que tem dinheiro (no caso tempo) pra viver mais do que a Dercy Gonçalves; O que daria ainda mais urgência em encontra-los já que a família dela é rica.

Mas não é só isso: as atuações são bem fracas; Juntin Timberlake surge pouco expressivo o que torna uma decepção depois das ótimas atuações em a Rede Social e Amizade Colorida. Amanda Seyfried que apesar de ser boa atriz continua escolhendo mal seus trabalhos, aqui tem atuação que faz jus ao filme. E Cillian Murphy continua a manter a cara de mal de todos os filmes dele que eu e lembro de ter visto.

E não sei porque o diretor Andrew Niccol coloca o casal no centro do quadro várias vezes e os isola de todos, causando a sensação que não há ninguém perto de ambos, e sendo assim passa a impressão de que nunca vão pega-los, o que impede de criar alguma tensão.

Resultado final: ideia interessante, boas sacadas, mas no geral, muito mal executado.

Tempo é dinheiro e tenho a sensação de que perdi ambos

Nota -4

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Contágio

Steven Soderbergh deve ser muito gente boa: ele consegue trabalhar com uma quantidade incrível de atores famosos. Pra se ter uma idéia, Julia Robert no auge de sua carreira disse que ficou perturbando ele para trabalhar em Traffic, e como o diretor não tinha papel pra ela, escalou -a em 11 homens e um segredo. O Oscar da atriz, aliás, foi ganho por um filme dele.(Erin Brockovich). Em Contágio tem mais uma grande quantidade de atores famosos incluindo aí Kate Winslet que tinha sumido depois de ganhar um Oscar pelo conjunto da obra em 2009(oficialmente ela venceu por “O Leitor”).

Ter muitos rostos conhecidos é uma grande vantagem para o filme, uma vez que o público se identifica mais fácil com rostos conhecidos e ver que um desses personagens morre logo no início faz com que percebamos que os personagens principais não vão necessariamente sobreviver como na maioria dos filmes catástrofes.

A história de um vírus  que vai se espalhando rapidamente poderia render um filme bem pipoca com muitos efeitos especiais, mas Soderbergh evita isso e faz discussões políticas e levanta questões de quem lucra e quem perde com epidemias.

Mesmo sem nunca ser genial, Contágio é ágil, dinâmico e parece bem mais curto do que é (bom sinal) e seus atores desempenham bem seus papéis, mesmo que sem brilharem, já que não há muito tempo pra isso (Matt Damon é o melhor aqui), já que com diversos personagens, eles não são tão desenvolvidos e assim, muitos não aparecem tanto.

Infelizmente a cena final parece mais um erro de montagem, mas é apenas a opção equivocada do filme pra gerar um clímax, o que se torna um erro já que aquela altura, a explicação fornecida já havia se tornado desnecessária.

Obs: pra quem em 2009 teve alguma pessoa próxima, que ficava neurótica com a gripe suína o filme se torna uma experiência mais tensa.

Nota-7,5