Com quase 80 anos de idade, mais de
40 filmes na carreira e dirigindo 1 por ano, não é de se espantar que Woody
Allen repita ideias de filmes anteriores. E quem conhece o diretor , sabe que
ele tem verdadeira obsessão por escrever, e que ele está sempre pensando
em um projeto novo, já que se aposentar seria como morrer, como fica claro em
“Para Roma com Amor”, seu filme de 2012. E quem o conhece bem, também sabe que
ele tem pavor de morrer.
Nesse filme, Abe Lucas(Joaquin
Phoenix), professor de filosofia com tendências depressivas se envolve com
Jill, uma aluna(Emma Stone) e Rita, uma outra professora(Parker
Posey). Um
dia ele escuta uma conversa em uma lanchonete em que uma mulher se desespera ao
saber que vai perder a guarda de seus filhos porque o juiz é amigo do advogado
do pai das crianças. E decide matar o juiz, acreditando que ele pode tornar a
humanidade melhor, ao livra-lá de um ser humano que ele julga como nocivo.
Assassinatos elaborados para
parecerem crimes perfeitos já foram temas do diretor em obras primas como
Crimes e Pecados e Match Point, no entanto dessa vez Allen não nos permite
conhecer a vida da vítima. Um homem ouve uma conversa, tira suas conclusões e
decide cometer um crime. Não sabemos se de fato a mulher que se diz vítima, era
vítima, se o juiz era mesmo corrupto; tudo é o que o professor acha, baseado no
que ele ouviu de uma desconhecida.
Nesse ponto é um grande mérito do
filme que simpatizemos com o professor, e isso se deve a brilhante atuação de
Joaquin Phoenix que apenas o olhar retrata perfeitamente o momento de seu
personagem. Seu semblante muda nitidamente quando ele encontra um sentido pra
sua vida ao decidir cometer um crime. Emma Stone vive(muito bem) uma
personagem, Alegre, cheia de vida e(sim) infiel. Ela se apaixona pelo professor
que é totalmente oposto.
O roteiro do filme é interessante e
inteligente em muitos pontos, como , dar informações aparentemente descartáveis
que depois serão importantes no final. Porém o mesmo falha ao não elaborar a
solução final de maneira tão satisfatória. Ela é coerente, interessante e mesmo
empolgante, no entanto no mundo real não é fácil acreditar que alguém que havia
pensando tanto em um crime perfeito, agiria daquela forma. (spoiler no próximo
parágrafo-pule caso não tenha visto o filme).
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É verdade que Abe não teria tempo pra
planejar nada tão elaborado, no entanto , fica pouco crível que ele não se
preocuparia com câmeras no prédio(ou que qualquer pessoa visse), ou mesmo que a
perícia certamente concluiria que Jill não tinha sofrido acidente e sim ter
sido empurrada no vão do elevador e que ele seria suspeito. Além disso a forma
como ele tenta joga-la no vão é um tanto irreal. Parece na verdade um erro na
forma como foi filmada e não do roteiro.
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Outro problema é o excesso de
narração, que muitas vezes soa desnecessária. Algo que já atrapalhou um pouco o
mediano “Você vai conhecer o homem de seus sonhos” e o excepcional Vick
Cristina Barcelona
Mas mesmo com isso, Homem Irracional
é um filme envolvente, intrigante e que nos faz pensar em boas questões.
É justo que haja justiça com as
próprias mãos?
É justo que baseado no que você
acredita, você faça algo julgando que é certo? (ainda que tenha provas, o que
não era o caso no filme)
Se você acha que uma pessoa é um mal
pra humanidade, é justo você mata-la?
Se você não está pronto(a) para viver
uma relação monogâmica, é justo achar que o(a) outro(a) também não está? Ou
pior, usar isso como desculpa pra sua atitude errada?
Tudo isso é coisa do ser mais
paradoxal do mundo: o ser humano.
No fim das contas “Homem irracional”
parece um esboço feito para futuras obras de artes. O problema é que quando
esse esboço vem depois das obras de arte dá um gosto de que podia ser
melhor. E isso pode até soar injusto com esse ótimo filme.
Nota-8
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Concordo com você. Acho que é um Woody Allen menor, e que tem problemas inegáveis devido ao excesso de temáticas, mas O Homem Irracional é um bom filme. Ele já fez (muito) melhor com os mesmos temas, mas isso não significa que seu novo trabalho não presta.
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