Quando assisti a ótima peça ”Deus da carnificina” imediatamente lembrei do
filme “Anjo exterminador” de Luis
Buñuel. As pessoas trancadas dentro de uma casa começam a tirar suas
máscaras e mostrar o quanto podem ser cruéis.
Na trama do filme (assim como na peça), uma criança agride a
outra e os pais das duas crianças vão conversar, mas o que era pra ser uma
conversa civilizada, acaba virando uma
discussão sem fim e muito pouco amigável.
O filme já começa com uma bela cena que mostra várias
crianças em um parque, até que uma
agride a outra; porém o público acompanha tudo de longe sem consegui
entender o que eles estão falando e qual foi o motivo da agressão, o que é uma
grande sacada do diretor, já que ao longo do filme, veremos que o motivo da briga
não é o mais importante.
-Corta para o apartamento dos pais do menino agredido-
Os dois casais começar a conversar educadamente, tentando
resolver a situação da melhor forma possível, que é uma situação ruim, porém
normal de acontecer. Porém o que se segue é uma sequencia de ofensas, e todos
começam e disparar seus preconceitos, indiferenças, arrogância, além de expor
as intimidades familiares.
Uma técnica que o cinema permite é a manipulação das
imagens; em um filme, você ver exatamente
o que o diretor quer que você veja, ao contrário do teatro que os olhos do
público podem passear pelo palco. E Roman Polanski faz
isso com maestria criando um ambiente mais claustrofóbico e angustiante. Além
disso, cada vez que um personagem está em destaque, o diretor capta a reação de algum outro, destacando
aquele que interessa mostrar na hora. Repare em um das várias cenas que um
personagem fala ao celular e veja a impaciência da esposa dele; é mais importante que olhemos pra ela na cena do que
para os outros dois, e isso uma peça de teatro não poderia te “obrigar” a olhar pra quem deveria na hora.
O texto Yasmina Reza(também
roteirista do longa ao lado de Polanski) é crítico, cínico, debochado, triste e
engraçado, mas poderia não funcionar se não fosse dito por grandes atores, mas
felizmente os quatro atores tem grandes atuações(Kate Winslet em alguns
momentos parece exagerada além do necessário, mas nada que atrapalhe).
No fim de tudo fica claro que não importa quem é a pessoa
mais calma, mais cínica, mais explosiva, mais justa; em algum momento todos podem perder suas máscaras e tudo pode
culminar em uma carnificina verbal, moral e emocional.
Nota 9
Também dei nota 9. Filmaço.
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